Brasiliana Museus é lançada, já em processo de expansão

O auditório do Museu Paulista, em São Paulo, recebeu a concorrida
cerimônia de lançamento do Brasiliana Museus.

O dia do lançamento foi emocionante para quem esteve de alguma forma envolvido com o Projeto Tainacan nestes quase 10 anos de sua existência. Para a turma da cultura digital, e para aqueles engajados em iniciativas em torno de uma política nacional para acervos digitais de cultura baseada em tecnologias livres, o evento serviu para renovar as esperanças sobre a retomada de iniciativas em prol de uma “infraestrutura pública digital”.

Sec. de Economia Criativa e Fomento Cultural do MinC, Henilton Menezes

Representando o MinC, o Secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural, Henilton Menezes, informou que a Lei Rouanet está de volta com os planos anuais e plurianuais, que atendem de maneira mais adequada aos museus brasileiros — grandes captadores do sistema. No clima do evento, o Secretário indicou também a possibilidade de inclusão de planos específicos para a digitalização de acervos, que possam colaborar com a qualificação das imagens digitais do patrimônio cultural brasileiro, em sintonia com as diretrizes propostas pelas nascente Rede Brasiliana.

Os presentes puderam perceber emoção também entre os especialistas que representaram os quatro projetos que já iniciaram as tratativas para inclusão de suas coleções na rede que o “Brasiliana Museus” inaugura: o (1) “Museu do Ipiranga”, o (2) “Museu da Pessoa”, o (3) “Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS”, e a (4) “Mediateca Capixaba”. Dentre os projetos, três já utilizam o Tainacan, e puderam testemunhar os aspectos inovadores que o Tainacan acrescenta ao dia-a-dia da lida dos especialistas na organização e na disponibilização de seus acervos online. A presença do “Museu da Pessoa” — que não utiliza o Tainacan — entre este grupo inicial demonstra como o uso da aplicação desenvolvida pelo Ibram não é pré-requisito para a adesão à Rede Brasiliana.

Fernanda Castro apresenta Brasiliana Museus

Importante dizer que esta ampliação de escopo do serviço Brasiliana já no momento de seu lançamento foi determinação da gestão Margareth Menezes / Fernanda Castro (MinC-Ibram). O serviço foi inicialmente pensado no Ibram como um agregador restrito aos museus do Ibram, programado para ser lançado como “Plataforma Acervo em Rede”. A gestão trouxe nova orientação, e o serviço foi redimensionado para já no momento de seu lançamento, abrir o processo de inscrição para todos os museus brasileiros interessados em fazer parte da Rede. A decisão sinaliza a compreensão do Ibram sobre seu papel de articulador de políticas de cultura digital, e aponta a sinergia da Brasiliana Museus com projetos internacionais de agregação de acervos culturais como Europeana, Gálica, Mexicana, dentre outros.

Para seguir aumentando a escala dos projetos do Ibram, foi necessário acelerar a construção de capacidade no instituto em operar políticas públicas de Cultura Digital de maneira autônoma e para tal, foi, é, e será crucial a cooperação com a universidade pública. Tratou-se de transferir, para o Ibram, o arranjo que denominamos “Modelo de Gestão para a Inovação em Software Livre” (Métodos Ágeis), concebido e operado para a realização do Projeto Tainacan no âmbito de uma instituição pública em parceria com a rede acadêmica.

Equipe do LabDev/CGSIM, com Dalton Martins,
Luciana Martins e a presidenta Fernanda Castro.

O LabDev, núcleo de suporte e desenvolvimento recém estabelecido na CGSIM (Coordenação-Geral de Sistemas de Informação Museal), é composto por jovens profissionais da Ciência da Informação — Museologia, Biblioteconomia, Arquivologia — que tiveram participação nas equipes de desenvolvimento do Tainacan nos últimos anos. Essa turma segue crescendo, e se capacitando no desenvolvimento de novas funcionalidades para a aplicação a partir de sua experiência no auxílio às equipes nos museus. É perceptível o entusiasmo com o trabalho realizado na iniciativa, e a sensação de que o ambiente digital apresenta quase que uma nova carreira para os especialistas em instituições de memória.

Esta nova capacidade em inovação estabelecida no Ibram, por outro lado, permitiu à presidenta Fernanda Castro intensificar o uso das práticas de cultura digital nas demais iniciativas da casa, em especial na promoção da participação social. O (novo) Cadastro Nacional de Museus será lançado nos próximos meses com a inclusão dos Pontos de Memória, e em 2024 estará concluída a aplicação para operar o Inventário Nacional de Bens Culturais Musealizados – INBCM, que será desenvolvida em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

Grupos de Pesquisa envolvidos no desenvolvimento de novas
frentes para evolução do Projeto Tainacan, e de sua comunidade.

Para manter o ritmo de ampliação da atuação em pautas de cultura digital, a CGSIM/Ibram promove a articulação de novos parceiros para a evolução do Projeto Tainacan / Brasiliana. A imagem acima ilustra a rede que se desenha para ativar, em 2024, a atuação integrada de laboratórios de pesquisa de grandes universidades públicas no tema dos acervos digitais de cultura. Como dito por Fernanda Castro, ao palco do Museu do Ipiranga, “na CGSIM ainda não foi criado o setor para dizer NÃO, e por isso eu e o Dalton (Prof. Dalton Martins, Coordenador-Geral de Sistemas de Informação Museal do Ibram) seguimos dizendo SIM.”

Prof. Dalton Martins, Coordenador da CGSIM/Ibram

Logo após o lançamento do Brasiliana Museus em São Paulo, a presidenta Fernanda e o Coordenador-Geral Dalton seguiram para a Cidade do México, para participar do “Encuentro Patrimonio Digital en Internet: Experiencias en México y en Brasil”, de 18 a 22 de setembro de 2023. Na medida em que os colegas do projeto “Mexicana” começam a utilizar Tainacan para publicar os acervos digitais de vários dos museus de sua rede, o uso da tecnologia brasileira se alastra em um riquíssimo ecossistema museal. Ao informar o público presente de sua viagem ao México, e dos objetivos da cooperação, Fernanda desafia: “daqui há um ano estaremos aqui lançando a Americana, plataforma de patrimônio museológico para o continente America”.

Importa dizer que a ausência de uma política nacional para amparar e garantir perenidade ao Modelo de Inovação em Software Livre hoje desenvolvido no Ibram, e à serviço de iniciativas públicas para acervos digitais, é um risco para a sustentabilidade da operação. Na perspectiva da CGSIM-Ibram, entendemos que o êxito em realizar um projeto de política pública de cultura digital com a utilização de software livre, em parceria com a universidade pública, deve ser reconhecido na medida de sua relevância estratégica para o futuro, e resultar na garantia de sua continuidade por parte do poder público.

Texto: José Murilo
Fotos: José Rosael

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