Panela de Aço

Cozinha Brasileira

Os museus têm em seus acervos uma enorme quantidade de objetos de uso cotidiano que narra parte da história de como cozinhamos e comemos. São pratos, terrinas, talheres, panelas, fogões e muitos outros utensílios e ferramentas - manuais, mecânicos e até eletrificados - utilizados, ao longo do tempo, nas casas de todo o Brasil. Aqui, apresentamos uma reunião desses objetos que trazem um recorte de hábitos e usos culinários das casas brasileiras.

A CASA E A COZINHA

A história das cozinhas é pouco conhecida, assim como dos seus equipamentos, utensílios e ferramentas. Ela se mescla com a história da própria casa e de seus espaços, que vão se especializando ao longo do século XIX. Até então, cada espaço das casas tinha múltiplas funções, sendo ao mesmo tempo local de cozinhar, dormir e trabalhar. É somente com a urbanização e a modernização da sociedade brasileira, que as casas passam a ter espaços especializados para a realização das atividades domésticas. Essa transformação é visível principalmente nas casas da burguesia urbana, já que nas cidades grande parte da população vivia em cortiços, compartilhando quartos, cozinhas e banheiros coletivos. A cozinha foi um dos espaços que mais sofreu transformações nesse período. Com a industrialização, fogueiras e fornos improvisados deram lugar a fogões, a lenha e, mais tarde, a gás. Nas cidades, a água passou a ser encanada e a cozinha deixou de ser um espaço externo, muitas vezes coberto com palha e sem paredes, para ganhar seu lugar entre os cômodos das novas residências urbanas.

1474 ITENS

ESTA CURADORIA CONTA COM ITENS DE DIFERENTES MUSEUS

UTENSÍLIOS DE COZINHA

No período colonial, os utensílios e ferramentas de cozinha e mesa eram escassos e pouco sofisticados. Cuias e panelas de barro, copos de cabaça e quase nenhum talher. O fogão era no geral uma fogueira aberta, que espalhava fumaça pelos cômodos e deixava as paredes enegrecidas de fuligem. Isso se devia à ausência de chaminés e às poucas janelas existentes nas casas coloniais. Em muitas residências, a cozinha ficava do lado externo, para evitar a fumaça no interior, onde eram cuidadas pelas escravas, marcando também a diferença entre os espaços dos senhores e os dos escravos.

Com o passar dos séculos, as refeições se tornam momentos mais importantes nos processos de sociabilidade familiar, e ter as cozinhas no interior das residências se tornou mais prático.

Devido a falta de utensílios, mesmo nas casas ricas, era costume comer com as mãos. Os talheres, de tão raros, eram deixados de herança e constavam nos inventários. Objetos de prata, como bandejas, salvas e gomil eram raros e exclusivos de pessoas abastadas. No geral a louça era de barro e nos engenhos era comum a existência de um forno no qual eram cozidas. As porcelanas mais finas chegavam das Índias e eram comuns nas casas de ricos comerciantes que tinham o benefício de monopólios régios e, dessa forma, acesso a produtos importados.

OS OBJETOS DO DIA A DIA

Com a chegada da família real em 1808, diversas manufaturas puderam se instalar no Brasil. O acesso aos produtos importados também aumentou, permitindo que utensílios de diversas naturezas passassem a povoar os lares. O consumo de “supérfluos” mudou a vida social da nova corte e do Império, recém instalados no Brasil. A nova burguesia, surgida do desenvolvimento econômico, permitia a ascensão social não somente pela hereditariedade, mas também pelo trabalho, por meio de atividades comerciais, industriais, financeiras, manufatureiras etc.

Ao longo do século XIX, os objetos coloniais, mais simples e rústicos, foram substituídos, principalmente nas casas mais abastadas, pelos refinados utensílios e móveis europeus. Na cozinha e, principalmente na mesa era possível encontrar com mais frequência, jogos de louças inglesas, francesas e alemãs, entre outros muitos objetos manufaturados e industrializados,

símbolos de modernidade e distinção entre as elites nacionais do período.Esses utensílios eram expostos ao olhar nos novos espaços domésticos, como a sala de jantar, separada da cozinha, nas quais ainda eram utilizados os rústicos potes de barro, as panelas de ferro e os alguidares de madeira.

As louças, durante os séculos XVIII e XIX, eram intensamente decoradas com cenas de caça, paisagens, plantas, frutos e flores em profusão. Utilizando a técnica do decalque, essas louças, inicialmente azuis e produzidas na Inglaterra, logo se disseminaram por toda a Europa, adquirindo outros tons como púrpura, sépia e rosa. Já mais para o final do século XIX o gosto pelas louças decoradas foi substituído pelas louças brancas, decoradas com filetes de ouro e prata, e estampadas com monogramas. Esse mesmo gosto repercutiu entre as classes abastadas no Brasil (LIMA, 1995).

Terrina do século XIX com detalhes em folha de ouro produzida no Brasil

A FABRICAÇÃO DOS OBJETOS

A diversidade de materiais dos quais são feitos os objetos de cozinha e mesa atesta a evolução das técnicas de fabricação e o crescimento dos processos industriais. O surgimento das manufaturas europeias e, posteriormente, sua implantação no Brasil, fez com que o acesso a esses bens se popularizasse. Os acervos dos museus do Ibram atestam essa diversidade de materiais presentes nos utensílios de cozinha e mesa.

BARRO, PEDRA E PALHA

Os objetos de origem indígena foram, durante muito tempo, os únicos encontrados nas cozinhas coloniais. Essa influência é sentida até os dias atuais, por meio da utilização de cestos de palha, panelas de barro e colheres de pau. Nos acervos dos museus do Ibram é possível encontrar alguns desses objetos. Mesmo sem datação específica, esses utensílios atestam a importância das variadas culturas indígenas presentes no nosso território na conformação dos hábitos alimentares e culinários brasileiros.

Cesto Guarani

Cesto guarani, confeccionado com taquara, nas cores e bege.

Vasilha

Vasilha cerâmica em formato retangular, apresentando pequenas fraturas na parte basal, não apresentando decoração.

Moringa

Moringa de barro para armazenar água, produção artesanal, sem a presença da alça original.

O FILTRO DE BARRO

Não se sabe com certeza a origem dos filtros de barro. No Brasil existiam as moringas e as talhas, que limpavam por decantação, mas que não eram tão eficientes. Na Europa, existiam filtros de pedra e metal que utilizavam a tecnologia das velas para a filtragem da água. Essas velas foram trazidas pelos imigrantes e foram incorporadas aos filtros de barro nacionais. A primeira manufatura de filtros de barro foi a cerâmica Lamparelli, que fabricava o tradicional filtro de barro vermelho na cidade de Jaboticabal. Os exemplares que existem nos museus do Ibram são anteriores a essa época e utilizavam as tecnologias de decantação e fervura para a purificação da água.
Para mais informações veja: https://pt.wikipedia.org/wiki/Filtro_de_barro

2 comentários

  1. Bom dia. Tenho alguns utensílios de cozinha um pouco antigos, das décadas de 1960, 1970. Quero doar.

    • Prezado Jair, o Ibram não pode receber doações, mas os museus podem. Sua questão provocou um debate interno sobre se poderíamos facilitar o diálogo entre doadores e museus no tema “doação” aqui na Brasiliana. Estamos avaliando a possibilidade, e informarei sobre os desobramentos. Grato pela iniciativa!

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