O MÓVEL NO MUSEU
O mobiliário presente nos acervos dos museus do Ibram trazem um recorte específico. Por meio desses objetos, conseguimos saber mais sobre os espaços das casas e os modos de vida das classes mais abastadas, principalmente nos séculos XVIII e XIX. Esse foi um período de grandes transformações nos espaços domésticos, que passaram a ser mais intimistas e especializados. Dessa forma, encontramos aqui uma grande diversidade de móveis para essa nova casa que surgia e que devia ser mobiliada para o descanso e a intimidade, mas também para a ostentação e as aparências.
1468 ITENS
ESTA CURADORIA CONTA COM ITENS DE DIFERENTES MUSEUS
AS CASAS NO BRASIL
As casas brasileiras do início do período colonial sofriam influências das condições de vida impostas aos habitantes que aqui residiam. As dificuldades em obter produtos mais sofisticados vindos do Reino, a escravidão que dividia e estratificava as relações sociais e as enormes distâncias que separavam os nascentes núcleos urbanos, são todos eles fatores que vão moldar a intimidade e a vida privada nas habitações desse período e nos séculos vindouros.
As casas dos colonos, a depender da classe social, assumiam contornos distintos. No geral, nas habitações mais simples os poucos cômodos exigiam a sobreposição de funções. No mesmo espaço que se dormia, se cozinhava e se trabalhava. Já as pessoas mais abastadas, dispunham de mais cômodos, no geral enfileirados. O cômodo da frente tinha uma janela que dava para rua e no geral servia de sala. Os quartos de dormir, chamadas alcovas, vinham na sequência e, no geral, não tinham janelas. Nos fundos, ficava a cozinha e o alpendre, que davam para o quintal.
Essa disposição adquiriu diversos formatos, conforme a região, e foi se alterando com o passar do tempo. O que era mais característico, entretanto, era a parcimônia do mobiliário existente. De acordo com relatos de viajantes do período, a maior parte das casas tinham poucas cadeiras e mesas e algumas caixas e baús, que serviam para preservar roupas e objetos da umidade e do ataque de roedores.
A partir de meados do século XVIII os espaços íntimos começam a ganhar importância. E com eles, a diversidade de móveis e objetos de decoração.
BANHOS E BANHEIROS
O uso do urinol e das cadeiras sanitárias era prática corrente em todo mundo, inclusive no Brasil. Isso porque não havia água encanada nem rede de esgoto. Foi somente no início do século XVIII que a primeira obra sanitária, o aqueduto do Rio Carioca, foi concluída e entregue à população. Essa obra foi considerada a mais importante do período colonial e até hoje pode ser vista na cidade do Rio de Janeiro como um conhecido ponto turístico, os Arcos da Lapa.
Antes disso, a obtenção de água para a lavagem de roupas e louças e para o banho era feita por meio de poços, cisternas e, mais comumente, por meio de rios e chafarizes públicos. Os dejetos sanitários, por sua vez, eram recolhidos dos urinóis e cadeiras sanitárias, esvaziados em tonéis e levados para serem despejados em rios. Quem fazia todo esse serviço pesado eram os escravos, conhecidos como “tigres”. Esse apelido era porque os dejetos vazavam pelo caminho e a uréia e a amônia marcavam a pele negra de branco deixando listras. Com a chegada da família real e o crescimento das cidades durante o século XIX, esse sistema ficou inviável e as obras de saneamento começaram a acontecer de forma mais sistemática. Isso acarretou em uma mudança no mobiliário das casas e banheiros, fazendo com que urinóis e cadeiras sanitárias fossem aos poucos abandonados.
OBJETOS SOFISTICADOS
A diversidade de materiais dos quais são feitos os Com o crescimento da indústria a partir do final do século XIX, o acesso aos bens de consumo mais sofisticados se intensificou tanto na Europa como no Brasil. Os cômodos das casas foram se tornando cada vez mais “decorados” com uso de móveis que deixam de ser meramente utilitários para se tornarem objetos de desejo.
Mesa de encostar
(com pernas em harpa)
Baú
A INTIMIDADE DO QUARTO
O mobiliário dos quartos foi durante a colonização, bastante escasso. A maior parte das pessoas não possuía cama e sim redes, que eram desmontadas mais facilmente, permitindo que a pessoa seguisse viagem, o que era comum no período, ou que o cômodo fosse usado para outros fins. Também eram usados os catres e os jiraus, espécie de divã feito de tábuas erguidas alguns centímetros acima do chão. As camas de madeira talhada, similares às que usamos hoje em dia, começaram a aparecer com mais frequência a partir do século XVIII. Marquesas e canapés surgem como móveis de descanso, dando lugar aos tamboretes bancos mais rústicos, somente no século XIX, assim como secretárias, escrivaninhas e penteadeiras. Os objetos de decoração, como tapetes, quadros, cortinas e lustres começam a se fazer presentes nas casas mais abastadas. Isso se devia tanto a uma mudança de mentalidade que passa a privilegiar a intimidade e o conforto doméstico, quanto às maiores possibilidades de acesso aos bens de consumo europeus, por conta das facilidades de comércio internacional após a chegada da família real portuguesa ao Brasil.
O MUSEUS COM COLEÇÕES DE MOBILIÁRIO
As principais coleções de móveis e objetos de interior existentes nas instituições do Ibram são dos séculos XVIII e XIX. Alguns deles têm a característica de serem museus-casa, como o Museu Casa Histórica de Alcântara, o Museu Casa de Benjamin Constant, “um tipo de museu que, abrigado num imóvel que serviu como casa de alguém, busca preservar a forma original, os objetos e o ambiente em que viveu aquela pessoa ou grupo de pessoas” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu-casa). Esses e outros museus com coleções de móveis podem ser consultados na listagem a seguir.
Coleção
Museu Casa Histórica de Alcântara
Coleção